quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Pesquisa mostra que atividades físicas geram aumento de área responsável por estímulos nervosos.

Estudo comprova benefícios do esporte para a saúde do cérebro
O educador físico Wantuir Francisco Siqueira Jacini, analisou em humanos, os efeitos que os exercícios físicos podem causar no sistema nervoso central. Inédita no país, a pesquisa foi realizada no Laboratório de Neuroimagem da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). Orientado pelo professor Li Li Min, do Departamento de Neurologia da FCM, o estudo revela os primeiros resultados sobre as alterações estruturais que ocorrem em uma das áreas mais complexas do corpo humano pela prática de atividade física.
Eram poucos os estudosfeitos com humanos
Os testes apontaram que o planejamento motor, associado a exercícios físicos, pode ser benéfico para a saúde do cérebro, uma vez que melhora a plasticidade cerebral, que é a capacidade de reorganização de estruturas danificadas. Em geral, esses danos são causados por dor ou lesões – entre as quais, o AVC (acidente vascular cerebral). Este aspecto, de acordo com o estudo, justificaria a prática de esportes na reabilitação de pacientes portadores de doenças neurodegenerativas – Mal de Alzheimer ou Mal de Parkinson, para ficar em dois exemplos.
Estudos experimentais feitos em ratos já demonstravam aumento dessa plasticidade no sistema nervoso, mais especificamente o acréscimo do volume de substância cinzenta – fundamental por produzir ou receber estímulos nervosos. Em humanos, no entanto, até então poucos estudos tinham sido feitos, em razão da falta de mecanismos de avaliação não-invasivos.
Ao utilizar imagem de ressonância magnética especialmente desenvolvida para a mensuração, o educador físico não só conseguiu analisar as transformações ocorridas com a prática contínua de atividade física, como também desenvolveu uma metodologia para outros estudos que tenham como objetivo avaliar o volume de substância cinzenta nas regiões cerebrais.
Financiado pelo CNPq, o trabalho foi apresentado na íntegra em julho de 2006, em um dos encontros mundiais mais importantes sobre mapeamento cerebral, ocorrido na cidade italiana de Florença. Os resultados também constam da dissertação de mestrado de Jacini, apresentada em fevereiro na FCM. A pesquisa originou, ainda, outros dois artigos científicos que serão publicados em revistas internacionais.
Judocas e corredores – O objeto de estudo de Wantuir Jacini foram os judocas e corredores de longa distância. Já o grupo-controle era formado por indivíduos sedentários, cujos resultados dos exames foram comparados aos dos atletas de elite. No total foram 16 atletas entre judocas e corredores e 20 sedentários, todos com características similares, de peso, altura e idade. Jacini tomou o cuidado de realizar todas as comparações possíveis para obter os resultados sem margem de erro.
Os índices para mensurar o aumento da substância cinzenta no sistema nervoso central foram medidos por voxels, o equivalente a um cubo de um milímetro nos três eixos que compõem a região do sistema nervoso. No caso dos judocas em comparação com os sedentários, ocorreu aumento no volume de substância nas áreas motoras e associativas – esta última envolve visão e memória. Algumas áreas vinculadas a planejamento e concentração também tiveram alterações.
No total, o aumento do volume de substância cinzenta em judocas foi de sete mil voxels. Jacini explica que para se ter uma idéia exata do que isso representaria, seria necessário um estudo funcional feito por especialistas, dessas alterações. Mesmo não sendo um especialista, o educador físico observa que as áreas afetadas pelo aumento da substância cinzenta são aquelas relacionadas à melhora da qualidade de vida. No caso do aumento nas áreas associativas, por exemplo, o fato consistiria uma pista para propor alternativas para reabilitação das doenças neurológicas.
Os resultados apontados na comparação entre os corredores de longa distância e sedentários foram a grande surpresa do trabalho desenvolvido na FCM. O estudo constatou, por exemplo, que nos corredores de longa distância, os índices de volume de substância cinzenta aumentaram e reduziram em proporções significativas. O aumento foi em média 41 mil voxels, enquanto a redução somou 34 mil voxels, o que representa ganho no volume de substância cinzenta. Na região temporal, ligada à memória, observou-se maior perda da substância, em torno de 10 mil. Em compensação, no cerebelo e na região frontal – áreas motoras –, o aumento foi substancial.
As comparações entre os dois grupos de atletas acusaram maior ganho entre os judocas nas regiões do cérebro, cerebelo e pariental. Neste sentido, o educador físico acredita que os estudos poderão avançar para especificar melhor as práticas de exercícios físicos voltados para doenças que atinjam o sistema nervoso. Um exemplo seria atividade de judô para crianças com transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), uma vez que as áreas relacionadas à concentração estariam sendo estimuladas.
Educação Cerebral do Bebê Estimulação Cerebral ou Educação Cerebral?
Fala-se muito em estimulação precoce desde as fases iniciais do desenvolvimento infantil, principalmente quando está relacionado aos períodos de maturação cerebral. O bebê recebe estímulos sensoriais como música, brinquedos coloridos, brinquedos com textura e tamanhos diferentes, entre outros brinquedos e estímulos, diariamente. Toda essa estimulação é importante? Na verdade o feto recebe a estimulação desde o período da gestação, seja escutando a voz da mãe/pai, a música, o barulho, o trânsito, entre outros estímulos que chegam até o útero da mãe. Por que não uma Educação Cerebral durante a gestação?
A mãe pode também ser influenciada pelo meio que ela vive, provocando o aumento do hormônio do estresse, consumo do álcool, insônia, entre outros fatores que interferem no desenvolvimento psiconeurofisiológico do bebê. Na décima-quarta semana de gestação, por exemplo, o bebê pode receber uma maior influência do hormônio testosterona que é secretada pela mãe e, consequentemente, alterar o comprimento do dedo anelar e o desenvolvimento do hemisfério direito. Para quem possui o dedo anelar mais longo do que o dedo indicador, as pesquisas sugerem maior habilidade viso-espacial1 (hemisfério direito).
Assim como a ação dos hormônios pode contribuir na formação cerebral, a estimulação precoce pode contribuir para mudança de comportamento, como o tempo de reação, a memorização, a aprender a falar mais cedo, entre outras habilidades cognitivas que o bebê possa desenvolver. Porém, estimular é diferente de educação. O fácil é estimular, mas educar é muito difícil. É mais fácil seguir um modelo de ensino do que respeitar o ritmo do bebê/criança e oferecer a melhor educação. É mais fácil ler um livro de auto-ajuda para “educar” o seu filho do que acompanhá-lo no seu dia-a-dia e observar o que ele gosta, como se comporta em determinadas situações, como ele chora, quais os tipos de choro que ele apresenta e com que freqüência, entre outros comportamentos que poderiam ajudar a conhecer melhor o bebê e oferecer uma Educação Cerebral adequada ao ritmo dele.
Como cada indivíduo é um indivíduo único [bebê], com seus bilhões de neurônios e as conexões sinápticas em constante formação a partir do ambiente que está inserido, é fundamental o Educador ser um bom observador . Ele precisa estar atento aos comportamentos do bebê para que possa contribuir no seu processo de aprendizagem com coerência/harmonia/equilíbrio para o seu desenvolvimento bio-psico-social.
Outro dado interessante é um estudo recente onde mostra como a atividade física pode mudar a estrutura e função cerebral2 . Nesse sentido, o que pode acontecer com o desenvolvimento psicomotor do bebê se ficar muito tempo no berço ao invés de vivenciar/explorar o seu ambiente engatinhando? É importante que cada criança possa estar vivenciando a sua maneira própria de explorar e testar as várias possibilidades que o meio oferece, permitindo que o bebê possa desenvolver as habilidades sinestésicas, cognitivas, sociais, emocionais, entre outras. E é importante a interferência positiva do adulto Educador como um observador/facilitador que vai permitir a evolução do processo de aprendizagem (educação cerebral) do bebê, importante para todas as etapas de seu desenvolvimento bio-psico-social.

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